segunda-feira, 19 de abril de 2010

A vagabunda da noite


Na madrugada do último dia 27 de março, mas precisamente às 5h5m, abordei uma garota de programa na rua Antônio Carlos, esquina com Haddock Lobo, que aparentava ter 56 anos, estatura mediana, loira oxigenada em corte chanel e que me pediu para ser chamada de Cherrie.



Chuviscava e começava um frio, fora alguns carros que paravam e não geravam encontros. Parecia cansada. No começo ficou desconfiada, mas depois iniciamos uma conversa sobre especificamente: aquela noite.



Cherrie já havia realizado dois programas ao custo de cento e sessenta reais, para um casal que estava comemorando dez anos de casados e queriam apimentar a relação, e oitenta reais para um jovem universitário carente, da noite.



Era uma noite de baixo movimento. A prostituta sempre guarda seus pertences com o cara do bar ao lado. Perfumes, tênis confortável, uma legue e uma malha grossa. Faz a troca de figurino para caprichar na roupa ousada, blusa decotada para deixar à mostra os seios fartos siliconados, a maquiagem exagerada. Trabalha autônoma, livre dos cafetões, e tem uma difícil relação com as outras colegas para assegurar-se do ponto.



Esta nessa vida há mais de doze anos. Após uma desilusão amorosa, saiu do interior, mais precisamente da cidade de Araraquara, para buscar sonhos na cidade grande. “Ao chegar em São Paulo e olhar para as luzes da noite, tive a certeza de que meus filhos e ex-marido ficariam no passado e o que fosse preciso fazer, faria, para esta cidade me dar uma nova vida”, afirma Cherrie, com seu olhar fixo ao meu já tentando me seduzir.



Ela alega que, para suportar a vida de prostituta tem que se gostar muito de sexo e que isso lhe dar prazer, além de fazer com que ela aprenda e entenda os tipos de comportamento das pessoas. Se julga como uma psicóloga da vida e aprendeu a observar o que o outro quer ou lhe faz falta.






Está namorando há sete anos com uma outra mulher, com quem divide sua cama e que não se incomoda com a sua profissão. “Os homens se tornam animais quando se trata de “foder” uma mulher de programa. Com outra mulher consegui me sentir amada e protegida”, diz ela, agora desviando seu olhar para um grupo de rapazes que conversavam com outra prostituta.



Para Cherrie, a convivência com os moradores é pacífica, pois elas acabam vigiando os carros parados e evitam pequenos furtos, para não expulsar a clientela.



Nossa conversa se encerra com um grupo de rapazes em um carro popular velho, que ela sorri e diz não estar fazendo liquidação, e saem xingando a prostituta de vagabunda, que sorri e se despede sem olhar para trás, dirigindo-se ao bar para trocar de roupa e cumprir mais um dia de jornada de trabalho.

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