terça-feira, 20 de abril de 2010

A cidade dorme



Já imaginaram em uma mesma mesa da sala de jantar, reunidos socialmente, personalidades


Como: Hebe Camargo, Chiquinho Scarpa, Magda Cotrof, Mayara Magri, Clóvis

Bornai, Jesse Valadão, Tony Belotto e sua esposa Malu Mader , Narjara

Turetto e tantos outros já esquecidos e ainda lembrados por todos,

jogando detetive e assassino em uma versão criativa intitulada de “A

cidade dorme”?



Pois isto aconteceu. No imaginário de um grupo de amigos cearenses

que migraram para São Paulo, não mais em “paus de arara” e sim graças as promoções das passagens aéreas nos últimos sete anos. Todos residem no mesmo bairro, alguns até  no mesmo prédio. Este grupo chama-se Divas, onde cada um adota pela sua excêntrica personalidade os codinomes dos famosos já citados.



O objetivo é de acolherem uns aos outros ajudando no que for possível

aos recém-chegados e entre bebedeiras e brincadeiras, se discute sobre

política, sexo e religião. As reuniões acontecem na casa de Clóvis

Bornai que aqui se casou com Chiquinho Scarpa e tiveram a primogênita

Hebe, Jessé e Mayara (gêmeos) e Malu Mader como a caçula.



Os momentos são registrados pelos que tem formação na vida real em

jornalismo para criarmos um livro de subtema “Consulado Cearense em São

Paulo”, onde essas personagens costuram a trama como temporadas de

seriados americanos onde a cada ano surgem novas pessoas e uma

nova trama.



A de hoje foi esse divertido jogo de criança, que em vez de piscar os

olhos para que o detetive não descubra quem é o assassino, transforma

a cidade onde existe Deus o mediador da brincadeira, detetive,

assassino,vítima e médico, já sorteados na antiga regra dos

papeizinhos.



Tudo começa quando Deus ordena a cidade dormir, todos em círculo

fecham os olhos, daí ele pede para que o assassino acorde e aponte quem quer matar. Após fechar os olhos ainda sob as ordens de Deus, o médico acorda e aponta

aleatoriamente quem deseja salvar, na vez do detetive este apontará

quem acha que seja o assassino tendo a confirmação se acertou por

Deus.



Neste momento a cidade acorda. Deus revela se alguém morreu ou se o

médico salvou, caso tenha acertado a pessoa que fora assassinada, começa uma discussão em grupo, entre muitos blefes inteligentes de quem seja o assassino, caso a maioria erre na acusação a brincadeira

continua voltando a cidade a dormir.



Entre muitas risadas, registrei ali uma família fictícia, se

divertindo num sábado e sendo mais um retalho de cultura que era

costurado formando a capital paulistana. Naquela rodada Bornai, fora

desmascarado como assassino pelo detetive Jesse. Filho que deletara a

própria mãe? Nem imaginaram isso, Hebe já insistia por mais uma taça

de Proseco, hoje a bebida preferida da turma, já que os mais antigos

começaram a se estabilizar na cidade.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

A vagabunda da noite


Na madrugada do último dia 27 de março, mas precisamente às 5h5m, abordei uma garota de programa na rua Antônio Carlos, esquina com Haddock Lobo, que aparentava ter 56 anos, estatura mediana, loira oxigenada em corte chanel e que me pediu para ser chamada de Cherrie.



Chuviscava e começava um frio, fora alguns carros que paravam e não geravam encontros. Parecia cansada. No começo ficou desconfiada, mas depois iniciamos uma conversa sobre especificamente: aquela noite.



Cherrie já havia realizado dois programas ao custo de cento e sessenta reais, para um casal que estava comemorando dez anos de casados e queriam apimentar a relação, e oitenta reais para um jovem universitário carente, da noite.



Era uma noite de baixo movimento. A prostituta sempre guarda seus pertences com o cara do bar ao lado. Perfumes, tênis confortável, uma legue e uma malha grossa. Faz a troca de figurino para caprichar na roupa ousada, blusa decotada para deixar à mostra os seios fartos siliconados, a maquiagem exagerada. Trabalha autônoma, livre dos cafetões, e tem uma difícil relação com as outras colegas para assegurar-se do ponto.



Esta nessa vida há mais de doze anos. Após uma desilusão amorosa, saiu do interior, mais precisamente da cidade de Araraquara, para buscar sonhos na cidade grande. “Ao chegar em São Paulo e olhar para as luzes da noite, tive a certeza de que meus filhos e ex-marido ficariam no passado e o que fosse preciso fazer, faria, para esta cidade me dar uma nova vida”, afirma Cherrie, com seu olhar fixo ao meu já tentando me seduzir.



Ela alega que, para suportar a vida de prostituta tem que se gostar muito de sexo e que isso lhe dar prazer, além de fazer com que ela aprenda e entenda os tipos de comportamento das pessoas. Se julga como uma psicóloga da vida e aprendeu a observar o que o outro quer ou lhe faz falta.






Está namorando há sete anos com uma outra mulher, com quem divide sua cama e que não se incomoda com a sua profissão. “Os homens se tornam animais quando se trata de “foder” uma mulher de programa. Com outra mulher consegui me sentir amada e protegida”, diz ela, agora desviando seu olhar para um grupo de rapazes que conversavam com outra prostituta.



Para Cherrie, a convivência com os moradores é pacífica, pois elas acabam vigiando os carros parados e evitam pequenos furtos, para não expulsar a clientela.



Nossa conversa se encerra com um grupo de rapazes em um carro popular velho, que ela sorri e diz não estar fazendo liquidação, e saem xingando a prostituta de vagabunda, que sorri e se despede sem olhar para trás, dirigindo-se ao bar para trocar de roupa e cumprir mais um dia de jornada de trabalho.