quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Reflexão



Há alguns dias, Deus — ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus —, enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro.




Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer — eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me entenda mal — não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de “minha vida”. Outros fragmentos, daquela “outra vida”. De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziavam para que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos.



Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mal me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.



Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector “Tentação” na cabeça estonteada de encanto: “Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível”. Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os dois se olham. Cintilam, prometidos. A dona o puxa. Ele se vai. E nada acontece.



De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, servir vinhos, acender velas, fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só compreendi dias depois, quando um amigo me falou — descuidado, também — em pequenas epifanias. Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia.



Era isso – aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria.



Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.

Caio Fernando abreu

(Publicado no jornal “O Estado de S. Paulo”, 22/04/1986)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Julia & Julie




Fui ver o filme Julie & Julia, da diretora Nora Ephron, baseados nas duas biografias: Julie & Julia de Powell e my life in France, de Julia Child com Alex Prud`homme. O filme conta histórias reais de duas mulheres, que mesmo separadas pela a linha do tempo, que com um pouco de coragem e manteiga trazem sabores para suas vidas.

A fantástica interpretação de Meryl Streep como Julia Child, na antiga Paris, enchem nossos olhos e ouvidos, e claro nos deixando com um apetite enorme. Me indentifiquei com Julie Powel sobre o quesito de nunca conseguir terminar ao que se propõe a fazer.


Suas expectativas sobre o blog, seus leitores e com a sensação de que realmente estamos escrevendo num enorme vácuo. Paixão e perseverança foram os sentimentos que saí me questionando e corri para saborear um “chai” specialy de melancia no Vanilla Café.

Tenho a convicção que podemos mudar o nosso destino sempre e muitas vezes procuro o incentivo. Penso que nas minhas relações nunca tive esse reconhecimento e começo a perceber que externo de mais isso, esquecendo de eu mesmo me dar colo.


Durante o filme me deliciei aos sons dos talheres e como é confortável comermos e filosofarmos. Listei minhas principais “comfort foods”:


Injadra refogada com bastante cebolas;

Mousse de chocolate;

gratinado de cebolas com batatas.
 
Peso 98 Kg.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O Natimorto





No sábado, dia 28/11, fui para o Vira Cultura no Conjunto Nacional para assistir o filme O Natimorto. Fui convidado por uma amiga que teve seus imprevistos e acabei ficando sozinho no espaço Bombril para ver o filme.
O filme foi adaptado e dirigido pelo Paulo Machline e traz como protagonista o próprio autor Lourenço Mutarelli que divide a cena com Simone Spoladore. A trama se desenrola dentro de um quarto de hotel numa relação entre um agente musical e uma cantora que não sabe cantar.

Ele tem a ideia de que as imagens que os maços de cigarros trazem tem uma correlação com as cartas do tarot e a cada cigarro comprado há uma predestinação do seu dia. Há algo de sujoe sombrio e me trouxe várias reações e percepções.

Pesando: 98,25 Kg

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Sou filho de Oxalá



"O Arquétipo dos seus filhos

Os filhos de Oxalá são pessoas muito tranqüilas, com tendência à calma, inclusive nos momentos mais difíceis. São amáveis e prestativos, mas nunca subservientes, pois não se rebaixam a ninguém. Sabem argumentar muito bem, convencendo qualquer pessoa de suas intenções. Adoram limpeza e organização, sendo perfeccionistas em tudo que fazem, às vezes chegando ao exagero. Exigem, com veemência, a mesma postura das pessoas que o cercam. Geralmente essas pessoas aparentam mais idade do que realmente têm, devido ao seu amadurecimento precoce. Usam o raciocínio para resolver seus problemas, sendo esse o seu ponto forte, por isso, não são dados a explosões emocionais. Não gostam de mudanças, preferindo a rotina de uma vida tranqüila do que uma aventura sem garantias. São lentos em suas decisões, pensando muito antes de agirem. Mas, quando tomam uma decisão, são persistentes e perseverantes. São muito reservados em seus sentimentos e raramente orgulhosos. Sendo geralmente comunicativos e carismáticos, atraem muitos admiradores e amigos, que se sentem protegidos ao seu lado. Gostam de canalizar tudo em volta de si, como um grande pai. Dificilmente, um filho de Oxalá deixa sem auxílio uma pessoa conhecida. Nessas atitudes de solidariedade, eles assumem alguns riscos, e, não raras vezes, acabam prejudicados. Confiam demasiadamente nas pessoas, sempre vendo seu lado positivo, por isso correm um sério risco de serem enganados. Seu maior defeito é a teimosia, principalmente quando têm certeza de suas convicções. Adoram assuntos polêmicos, expondo seus pontos de vista a quem quer que seja. Um outro aspecto negativo na personalidade dessas pessoas é fugir de determinados problemas, deixando as coisas chegarem a um limite insuportável. Todos os filhos de Oxalá apresentam um porte majestoso ou, no mínimo, digno. Os filhos de Oxanguian, ao contrário de Oxalufan, são muito nervosos, chegando ao extremo da irritação, mesmo sem ser provocados. Isso geralmente acontece quando sua própria vida não anda bem. São inquietos e arredios. Emocionalmente, são muito inocentes e facilmente manipulados pelo sexo oposto. Precisam de companheiras que lhes digam o que fazer em determinadas situações da vida. São muito dependentes e carentes, exigindo muita atenção. O semblante dos filhos de Oxanguian é muito jovem, dificilmente lhe revelando a idade. Quando estão felizes, são alegres e divertidos, procurando agradar a todos que o cercam. Não são nada reservados, contando fatos de sua vida e, até mesmo, algumas intimidades, para qualquer pessoa. Os filhos de Oxanguian têm muita sorte, pois dificilmente alguém não lhes estende a mão quando estão necessitados. Geralmente, possuem muita fortuna e sabem o que fazer para conquistá-la. Adoram pensar e refletir bastante, antes de se arriscarem em alguma nova experiência. São excelentes estrategistas."
By pesquisa do google.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Do começo ao fim





Finalmente estreou o novo filme de Aluízio Abranches, o mesmo que dirigiu Um copo de Cólera, entitulado "Do começo ao fim". Apesar da promo do filme tenha vazado na internete, o que acredito que tenha sido uma estratégia promocional, traz uma enorme frustração por ser um filme blasé.

De baixo orçamento e com novos rostos na tela em meio alguns veteranos, não convence a história de amor dos irmãos que em nada polemiza e não passa de um "nosense" sentimento que remete as sensação de um grande comercial do leite Molico.

Nem mesmo as cenas de nudez, os beijos arrebatadores conseguem arrancar grandes suspiros. Tive a impressão de ver na tela uma versão de Polyana menina moça para os gays. No mais fica  a diversão na espera da sessão do filme, que traz em suas filas uma diversidade de casais e um verdadeiro clima de amor no ar!